terça-feira, 8 de junho de 2010

Cinema Digital Popular (finalmente...)




Há tempos estou pensando num bom motivo para voltar a escrever aqui em grande estilo, com algo que realmente fizesse alguma diferença. E, como a atividade que mais tem me impedido de postar nos meus Blogs tem sido a acadêmica, achei que, agora, seria interessante falar de algo que apeteceria demais aos meus alunos.

É algo que me empolgou muito de ver, e espero que encante vocês, também.

Há dois anos eu falo com meus alunos, basicamente, sobre três câmeras de cinema digital: Sony Genesis (Varicam), que faz RGB "Raw Data" (basta dizer que não comprime cores), tem 3 CCDs (Charged Coupled Device, o sensor fotossensível da câmera) de 35mm, alto "range" de sensibilidade de luz, definição 4K (4 mil linhas) e um corpo de câmera com formato e peso de câmera de cinema; Thomson Viper, com mínima compressão de cor, 2K linhas, corpo de câmera de cinema; e a Red One, mais barata, full HD (1080 linhas progressivas) com exposição inteligente (falaremos sobre isso mais pre frente).

Uma maravilha.

Em valores aproximados, a Genesis (que não está à venda) custa US$900 mil, a Viper custa US$90 mil e a Red US$30 mil. Provavelmente, muito caro para os seus bolsos, assim como para os meus e para milhares de outros produtores audiovisuais no mundo inteiro. Para nós, a solução é fazer cinema digital de baixa qualidade, com alta compressão de cores e baixa (nem tanto) definição em linhas. Era a solução.

De alguns anos pra cá, meio que sorrateiramente, a Canon começou a soltar no mercado câmeras fotográficas de altíssima definição, sensor de 35mm e que fazem vídeos em Full HD. Tudo começou com a 5D Mark II, que não tinha nem essa intenção, mas, graças aos "fuceiros" de plantão, ganhou a função. Logo depois, a Canon se rendeu aos nossos amigos e, não somente deu à 5D a função de vídeos Full HD o caráter "de fábrica" à 5D, como, também, começou a dar "parentes" mais barata
s a ela. A 5D Mark II tem um sensor de 21MP, maior que o necessário para o fim de fazer vídeos de 1080 linhas ("ah, Professor, o senhor sempre fala que, quanto maior, melhor": calma. Não precisa ser tão grande).

Em seu lugar, a 7D, que nem da mesma família direito é - ela é descendente da 50D, outra linha de câmeras Canon, mais barata -, custa metade do preço (aproximadamente) e tem a mesma função, mas com um recurso que, antes, a gente só via na Red, em câmeras de vídeo. A tal da "exposição inteligente" que eu prometi explicar depois - o que é agora.

Imagine você trabalhando com uma câmera de cinema, em que a película pode ter um range de até 20 stops de luz. Muito mais fácil de trabalhar do que com uma câmera de vídeo profissional, tipo uma Beta Digital, ou uma SONY HDV ou qualquer outra, que tem, no máximo, uns 5 stops de tolerância.

"O que quer dizer isso, professor?" (nunca me canso de ouvir isso dos meus alunos em sala... rs): significa que você ajustou sua câmera para que um nível de luz represente o "cinza médio" (a exposição perfeita). Nas câmeras de vídeo acessíveis a reles mortais (vide estudantes de audiovisual ou empregados de pequenas produtoras de vídeo), dois stops acima e dois stops abaixo disso são os limites de informação registrada pelo(s) sensor(es); nas de cinema, dez acima, dez abaixo. Quando você passa dos limites, ou é branco estourando, ou é preto total.

Até as grandes câmeras de cinema digital, esse grande range de sensibilidade era exclusividade de película fotográfica (material sensível de cinema). Mas a gente não tinha acesso a essas grandes câmeras de cinema. Agora, à partir da 7D, nós continuamos não tendo acesso a essas grandes câmeras, mas temos acesso ao recurso.

Ela faz o seguinte: divide o sensor em 63 quadrantes (7 linhas, 9 colunas), mede a luz em cada um deles e corrige a exposição de uma forma quase independente. Resultado? Uma exposição similar à de uma câmera de cinema!

É ou não é uma "revolução digital para populares"?

Outra vantagem é que a 7D utiliza cartões de memória SDXC (SD de capacidade extendida), que, hoje, no mercado, já tem cartões de 128GB, mas tem tecnologia para evoluir para até 2TB.

Com definição Full HD, o vídeo sai dessas câmeras em formato ".MOV" e cada três minutos ocupam 1GB, ou seja, é melhor ter muitos cartões SD ou um SDXC para não ficar na mão.

A 5D já é encontrada nos States por US$ 4 mil, a 7D, por aproximadamente US$ 2 mil, ambas com conjunto básico de lentes. Aqui no Brasil, dependendo de onde você compra, R$ 9 mil e R$ 6 mil.

Mas já há uma alternativa melhor (para quem só está pensando em vídeo) e mais barata: Canon 550D (popular lá fora como "EOS Rebel T2i"). Ela faz tudo o que a 7D faz, mais a opção de 60fps em 720p, com um corpo de câmera um pouco menos robusto e metade do preço (US$ 1 mil, lá, e R$ 3 mil, aqui).

"E o que eu ganho quando compro uma câmera dessas em vez de uma Z1, por exemplo?"

Você ganha tudo isso que eu falei (a Z1 não faz, sequer, vídeos em Full HD. A Z5 faz, a Z7 também, mas não com essa qualidade), mais uma câmera fotográfica (sim, elas AINDA tiram fotos) de altíssima qualidade (21MP para a 5D, 18 para a 7D e a T2i), com possibilidade de cobertura esportiva (a 5D e a 7D tiram 8 fotos por segundo, se não me engano; a T2i tira 3,5, com certeza) e, de bônus (na verdade, o mais importante) a possibilidade de trabalhar com lentes intercambiáveis, que podem ser zoom (que já são melhores que as zoom que vêm nas câmeras de vídeo, à sua revelia) ou fixas, que têm uma construção ótica melhor, dando melhor resultado à sua imagem. Isso sem contar com a possibilidade de se usar polarizador, para evitar aberrações cromáticas, estabilizador de imagem e muitas outras coisas (vá pesquisar, vagabundo! rs).

Para se ter uma idéia, o último episódio da mais recente temporada de "House" foi filmada com a 5D Mark II, com o diretor declarando, após a experiência, que este deverá ser o futuro do cinema.

Eu já experimentei e aprovei a T2i. Nunca cheguei perto de uma 5D ou 7D e há quem diga que a 5D é inigualável, mas, com os recursos da 7D e da T2i, eu seriamente duvido.

Se alguém quiser me contar, os comentários estão abertos aí!

Para quem quiser dar uma olhada em testes com a T2i (dá pra ver em HD):





5D Mark II:





7D:





Enjoy!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sobre Mentiras e Omissões


É impressionante que, em plena era da mídia, século XXI, Rádio, TV digital, Internet, Blogs, Twitter etc., as pessoas realmente questionem a legitimidade do poder de fiscalização, controle e questionamento dos três poderes públicos/políticos (Executivo, Legislativo e Judiciário) por parte da Imprensa. Aliás, a definição de "três poderes", principalmente no Brasil, já está muito desgastada.

Um quarto poder vem ganhando força, um poder que eu chamo de "Popular". Desde que me conheço por gente, "pessoas politizadas" (leia-se PeTistas), vêm me ensinando que o povo brasileiro precisava (e ainda precisa) fiscalizar os políticos que elegem, acompanhar seu trabalho, interferir, fuçar, até incomodar aqueles que, via de regra e por definição, são os nossos representantes dentro dos três poderes. Dois, na verdade. O Judicuário não sofre da "interferência popular sazonal".

Realmente, é bastante recente (para não dizer que é inexistente) a vontade do povo brasileiro pela mobilização em função de uma classe política decente, ética e moral. Ela ganhou muita força na última década e tem em dois instrumentos a substituição da luta armada, usada pelo Partido Comunista até a década de 1970: a Internet, grande responsável e facilitadora de movimentos políticos e sociais e da disseminação da educação política de nossos jovens, e a Imprensa, grande ponta de lança do poder Popular, que acelera a mudança do povo brasileiro, visando alcançar aquelas vítimas da exclusão digital e pessoas que ainda apresentam resistência aos jornais de luz e à vida plugada.

É certo que a imprensa tem vícios e as reportagens, via de regra, escondem, por trás das palavras, a tendência política de quem as escreve, mas ela, como a mídia em geral, se apresentou como, não só um instrumento de disseminação das informações, mas, também, uma espécie de polícia investigativa, que espreita por escândalos e corrupções, claro, com fins lucrativos (tudo, no nosso mundo ocidental/capitalista tem esse fim), e que tem, sim, o papel de intrumento social para a fiscalização mais eficiente da classe política.

Acho absurdo que alguns da classe jornalística passe panos quentes na situação e ataque aqueles que cutucam, dizendo que deve-se relevar alguns escândalos em prol de uma suposta "estabilidade" política, econômica e social. É ridículo que aceitemos, seja de quem for, escândalos e corrupções. Na situação em que está o País, precisamos, sim, de uma imprensa que escancare o que há de mais (e menos) sujo em todos os níveis da política nacional, mostre o que há de exemplo a ser seguido e ensine nosso povo que um País sem uma classe política decente não vai nunca chegar à igualdade social que todos nós almejamos.

Num País que alguns jornalistas com tendências políticas tendem a recriminar jornalistas que falam a verdade (seja com qual intensão for), não é de se surpreender que, nas camadas mais pobres da sociedade, o marginal é herói, o traficante é objetivo de vida da criança e o "jeitinho brasileiro" seja disseminado como algo bom, tornando a malanragem regra e criando a cultura de "bolsas família" e afins, que ancoram os menos favorecidos na situação em que estão.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Show do Grotesco


Susan Boyle. Connie Talbot. Mari Moon. Stephany (a do "Crossfox Amarelo"). Zina (o "Ronaldo, brilha muito no Corinthians", do Pânico na TV). Mulher Melancia. Maysa. BBB. Rodney Dy. O que todos tem em comum?

Beleza? Certamente, não todos. Talento? Com exceção das três primeiras (com ressalvas), nenhum. Cérebro? Menos. Mas o que, então, tem todos eles que nos fascina, nos leva a buscar na internet, ver, rever, permitir que nos apresentem, dar audiência a tais elementos completamente dispensáveis às nossas vidas?

Pode verificar: todos são "celebridades" fabricadas pela mídia, feitas para serem "carismáticas" ao menos por um tempo suficiente para que seja fabricada outra, que substituirá a anterior, sem talento ou "carisma" suficientes para entreter as massas por tempo satisfatório.

São descartáveis. Temporários. Perecíveis.

O prazo de validade é curto (das listadas anteriormente, só acredito na continuidade de Mari Moon, que sabe se expressar, e de um ou outro BBB que a mídia suporte, por terem todos a Globo como cartaz), vez ou outra tão curto quanto a paciência do público ou da própria "celebridade" (vejam o caso de Boyle, que, desculpando o trocadilho, "ferveu" MESMO o cérebro e descobriu que sua vida pacata era mais confortável, a despeito de todo seu talento).

Mas "celebridades" fabricadas não são novidade. Elas estão por aí desde que existe a mídia. Para se ter uma idéia, dese que Holywood se tornou uma indústria, ela dependia do famso "Star System" para se vender. Eles perceberam que, quando o ator ou a tariz era conhecido(a) o filme vendia muito mais. Então, eles passaram a "fabricar" esse tipo de "estrela", para que a indústria prosperasse.

Depois, veio a indústria da música (da maneira que a conhecíamos até recentemente) e, com ela, uma maneira peculiar de se "fabricar" estrelas. As gravadoras criaram, desde o início do século, um esquema para multiplicar os dividendos de um artista: primeiro, expor sua música exaustivamente em rádios, fazendo a obra entrar na "boca do povo"; depois, lançar um monte de "artistas-cópia", criando um "pseudo-gênero" e vendendo não só os álbuns do "artista principal" (main-artist, no inglês), mas os das cópias, também.

Veja, como exemplo, gêneros de grupos musicais, como as "boy bands", os grupos de pagode, a exorbitante quantidade de subgêneros do Rock and Roll e, mesmo do já subgênero de Rock, o Heavy Metal, todas as crias de Madonna (Britney, Cristina etc.) e, mais atualmente, as dezenas de Beyonceés.

A fórmula da cópia serve, também, para a TV, e mesmo o cinema se usa de fórmulas-padrão, principalmente o "monomito", ou "Jornada do Herói", de Joseph Campbell (leia mais sobre isso aqui, aqui e até aqui), que funciona muito bem.

Hoje em dia, este esquema ainda existe, mas perdeu a força, devido ao fenômeno da Internet. A maior parcela da população economicamente ativa não depende mais do desejo de gravadoras ou grandes empresas para formar seu gosto, seja musical, audiovisual, artístico, televisivo, enfim, se você quer, você procura, você acha, você decide se gosta ou não.

Apenas a parcela menos favorecida da sociedade, que tem pouco acesso ou acesso restrito ou nenhum acesso à rede, ou aqueles que não tem intimidade com ela ou aqueles que, simplesmente, tem preguiça de vasculhar, acaba vulnerável ao que ráios, emissoras de TV ou interesses de grandes empresas de entretenimento nos enfiam goela abaixo.

Daí vem o cerne da questão: para não perder o poder de controle das massas que faz a mídia vender publicidade e sobreviver, os veículos de comunicação se fizeram valer de uma teoria de Arlindo Machado, que diz que o público se sente atraído pelo "grotesco". O "bizarro" toma conta do talento e ocupa todo o tempo de telejornais, programas de variedades e sensacionalistas em geral. Para atrair o público para a frente da tela (ou para o dial em questão), roteiristas, produtores e diretores apelam para o ridículo, o risível.

Mas, como já foi dito aqui, na maioria esmagadora dos casos, falta talento de verdade a esses produtos e, devido a isso, sobra perecibilidade aos mesmos. O prazo de validade das bizarrices é cada vez menor, então, as mídias as exploram à exaustão, criando um círculo vicioso e a necessidade cada vez maior de se substituir rapidamente o grotesco, para manter o interess do público em alta.

E, como nós temos MESMO um interesse estranho pelo grotesco, depois de vermos na televisão a criação da "celebridade", procuramos por ela na Internet, criamos perfis falsos no Twitter, no Orkut, comunidades etc. Eu, mesmo, sou seguido, via Twitter, pelo perfil falso (óbvio) do Zina, o famoso "Ronaldo, brilha muito no Corinthians".

E o caminho inverso também vale: sucessos do Youtube, como a "Stephany Crossfox Amarelo", Rodney Dy e a "Dança do Créu", acabam importados pela TV, em programas popularescos.

Se não gostamos, cabe a nós mesmos filtrarmos o que queremos ou não ver, como eu mesmo fiz, cortando quase completamente a TV da minha rotina, salvo aluns programas que ainda acho interesantes. Eu costumo preferir a mídi impressa e a internet.

Como disse o sábio Gugu, numa passagem da minha adolescência, a nossa TV tem um botãozinho vermelho, seja no aparelho, seja no controle remoto, que nos dá o poder de assistir, ou não, às porcarias que ela exibe.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Descanse em Paz, Michael

Quinta-feira passada, o mundo musical teve a sua maior perda desde Fredy Mercury.

Michael Jackson pode não ter sido o último criativo da música mundial -- poucos, mas notáveis, tem feito coisas bem legais de 1990 pra cá --, mas, falo com toda a certeza do mundo, foi o último grande.

Como disse Danilo Gentili em sua coluna no jornal Metro, é raro demais ver gente fazendo coisas que ninguém nunca fez antes e pouquíssimos fizeram da maneira de Michael e influenciaram tantos quanto Michael.

Desde o Rock n' Roll até o mais comercial dos "Black Musician" americanos, todos chuparam um pouco de Michael.

Dá para contar nos dedos os que fizeram tanta diferença para a música e a arte na história.

Como disse Marcelo Tas em seu Blog, nenhuma bizarrice, incluindo o noticiário de sua morte, vai apagar o que Michael fez.

E, a exemplo do mesmo Tas, vou deixar aqui o que eu mais gostei da carreira de Michael Jackson. Mas, como sou um cara do audiovisual, não vou me limitar à música. Não vai ser a minha música preferida, mas meu clipe preferido.


O pesar é enorme quanto à morte de Michael.

Descanse em paz.